TameWolf Voz de Travesseiro
Registrado em: Sábado, 4 de Janeiro de 2003 Mensagens: 3971
Localização: Ribeirão Preto - SP
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Assunto: ENTREVISTA — COELHO AIMORÉ |
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*plateia toca a música do programa, e Tame entra no palco*
Boa noite, amigos felpudos do Brasil e Portugal. Estamos de volta com mais um “The Tame Talk Show”, o seu programa semanal de entrevistas do Felin. E hoje nós chamamos aqui um convidado especial, o primeiro desse ano. E põe especial nisso.
Ele é um coelho brasileiro. Tem uma arte furry de caráter único, e preocupa-se bastante em mostrar as características brasileiras em seus trabalhos. Ele é da velha-guarda do fandom brasileiro, e tem uma educação extraordinária.
Com vocês, um coelho que é considerado um dos mais antigos furries do Brasil, se não... o mais antigo deles. Senhoras e senhores...
*aplausos da plateia enquanto Aimoré adentra o palco*
TameWolf (TW) — Você é um dos mais antigos, senão o mais antigo furry brasileiro em atividade. Como foi descobrir o fandom numa época em que ele era praticamente desconhecido no Brasil? E quando surgiu o seu gosto pelo fandom?
Aimoré (AC): Primeiramente felicito-o, juntamente com Hwei Chow por este espaço muito interessante aqui no Felin. É muito informativo e de utilidade pública. Parabéns por esta genial ideia, fico um pouco cabulado ao falar diante da plateia. Nem sei se eles querem ouvir este coelho chato. *cuimk*
Tame, sinceramente descobri o Fandom por acaso. Nunca passou pela minha cabeça a existência de pessoas que levassem a sério a ideia de serem animais, a tal ponto de considerarem um estilo de vida. Foi um choque à primeira vista. Pensava que desenhar animais antropomórficos fosse apenas um tipo de arte “marginal”, sem importância, não sendo classificado como forma de arte.
Para mim, tudo começou no ano 2001. Nesse ano, estava na internet em busca de informação para colocar numa falida revista. Subitamente bateu um pensamento estranho, nada a ver: “Será que alguém faz desenho de animais parecido com os meus?”. Então, através do site de busca “Altavista” comecei a procurar desenhos de animais, colocando nas palavras-chave “rabbit”, “hamster”, “bear”... Depois de muita busca, parei numa imagem de urso com roupas e asas, chamado Angel Bear de George Eddy, que estava num site chamado Yerf. Aos poucos, comecei a inteirar dessa novidade chamada Furry. Notei que nesse site havia um link para inscrição de novos artistas, mas hesitava em entrar, pensando: “Os novos artistas devem ser profissionais que registram a sua arte e pagam fortunas de Copyright. Eu não posso entrar ali porque sou um nada”. A vontade de entrar nesse fandom aumentou quando cliquei em um dos links do Yerf chamado VCL, outro Fandom, porém, bem diferente.
A quantidade e a qualidade da arte antropomórfica varia desde um esboço até uma bela obra antropomórfica. Meditei bastante e resolvi tentar entrar no VCL no dia 3 de abril de 2002. Fui aceito em dez minutos pelo Chmarr. *levanta as orelhas e mexe o focinho*
Não tenho certeza de ser o mais antigo furry brasileiro, há 36 anos desenho figuras antropomórficas e há dois anos sou furry assumido, deve haver mais furries antigos por ai. Eu comecei a desenhar animais com forma humana porque era mais fácil, não havia necessidade de justificar aos outros os meus erros de proporção e de estética da forma humana. Meus desenhos sempre foram coloridos e acrescentados de meus sentimentos.
Minhas imagens são alegres para mostrar que o mundo pode ser melhorado. Pelo que passei na vida e passo, deveria sempre fazer imagens tristes, cinzentas e sinistras, com cenas de sangue e perversões, mas pensando bem... observo que a maioria faz desenhos “down”. Porque então, mais um deveria fazer igual? É muito legal sair do padrão, sair do lugar comum, fazer algo que ninguém faz, sem cair no ranço do óbvio, previsível, cheio de clichês. É o que não desejo fazer.
TW — Sua “fursona” é a de um coelho. O que o levou a preferir essa espécie para fazer parte de sua identidade furry?
AC: Confesso aqui que meu “fursona” não era para ser coelho. Esse coelho que vocês veem é um cara que ajudou a sair do buraco, tirou os meus pensamentos ruins e tirou-me da depressão. Renasci sem a ajuda de religiões. É um amigo imaginário que nasceu em 1981. Eu converso com ele. Peguei-o para ser meu fursona no dia em que entrei no VCL. Ele é o meu lado bom, o que gostaria de ser na vida real. Apesar de nunca ter criado um coelho, desde pequeno parava o que estava fazendo quando via um desses orelhudos. Ficava encantado. *mexe as orelhas e mexe o focinho* No meu ponto de vista, ele é o ápice da evolução, uma das obras primas da Mãe Natureza.
Antes de conhecer o mundo chamado furry, alguns humanos perguntavam porque escolhi esse bicho estúpido e covarde para ser meu símbolo de vida. Respondia que esse animal é um vencedor na escala evolucionária, está em toda a parte deste planeta, um animal com uma forma aerodinâmica quase parfeita, perseguido porque tem um físico fraco, se fosse maior poderia se defender porque tem garras afiadas. *faz cara de bravo*
Desculpe, Sr. Tame, posso pegar dessa agua? Eu fico nervoso perto de microfone e câmera. Obrigado. *pega a caneca de água*
*Tame e plateia riem*
TW — Que desenhos animados, longa-metrages ou livros o influenciaram definitivamente na sua escolha de fazer parte do fandom, Aimoré?
AC: Com respeito a desenhos animados, o óbvio é o Pernalonga. Eu admiro a técnica de animação dos cartoons da Warner. Lembro que começaram a passar um anúncio toda hora, só com palavras, na antiga TV Paulista canal 5, assim: “Pernalonga vem aí!”. Depois de alguns meses, começaram a colocar a imagem desse Pernalonga. Fiquei ansioso para ver! Era o tal do Mindinho, uma revista em quadrinhos da editora EBAL, que adorava.
Somente um livro marcou. Era o livro didático para “leitura silenciosa” do meu segundo ano primário, autora Carolina Renno —creio eu—, de uma editora de Minas Gerais.
Havia uma estória de um filhote-coelho muito levado, que roubava verduras da horta de um homem. Foi a única estória contada em três capítulos nesse livro. No segundo capítulo, ele foi pego em uma armadilha. Na hora de ser morto para ser cozinhado, ele conseguiu comover a esposa do dono da horta e se safou. No terceiro capítulo ele foi pego de novo. Vendo que o seu filhote demorava para voltar à toca, a mãe-coelha foi procurá-lo na horta. O que ela encontrou foi um punhado de pelos brancos no chão e um pé do sapatinho do coelho. Fim. *abaixa as orelhas* Diga-se de passagem, a maioria dos contos desse livro sem final feliz.
*plateia faz owwwww*
TW — A TV Paulista, que o Aimoré citou, era na década de 60 o que é atualmente a Rede Globo. Bem, Aimoré... nos seus primeiros anos como furry, Aimoré, como você se relacionava com os outros membros do fandom? Seus contatos eram mais com o fandom japonês e americano? E não demorou muito para você conhecer outros furries brasileiros?
AC: Simplesmente colocava os meus desenhos no VCL e deixava a vida correr. Não levava a sério o tema Furry. No dia 9 de abril de 2002, recebi um agradável e-mail de Mr. MoonSong do portal Furry Brasil, desse jeito: “Estou escrevendo por que eu encontrei sua página e vi que você gosta de desenhar Furry. Achei isso o máximo. Eu e uns amigos meus estamos fazendo um site Furry, você gostaria de participar?”.
Depois, Sr. Supai Inu (hoje Hwei Chow), escreveu um e-mail dizendo que estava feliz ao ver minha página no VCL e gostou dos meus desenhos, e me deu boas vindas também. Eu entrei em contato com poucos furries internacionais, posso mencionar o bode branco Ximon Red, o coelho azul Artik e o canguru ArtieRoo.
TW — E o gosto pelo desenho, Aimoré? Ele começou quando e como?
AC: Todos começam a desenhar quando são pequenos antes de entrarem na escola, ao riscarem algo no papel. Penso ser a escola a grande culpada por reprimir o lado criativo ou artístico das pessoas.
No meu caso tomei gosto pelo desenho porque a minha mãe fazia desenho artístico, pintando animais com “tinta mágica” em telas de espuma de nylon ou então fazendo plushies de variados tipos de materiais. Ela queria ser artista. Apesar de não haver estudado, ganhou muitos prêmios, mas seus sonhos não se concretizaram. A situação financeira piorou, houve problemas de saúde, etc. Uma vez dei um longo berreiro, por não ter lápis-de-cor enquanto os outros na escola possuírem lápis-de-cor com 36 cores e crayons importados.
O tema principal de meus primeiros desenhos eram perspectivas das ruas com seus postes de fios elétricos. *mexe as orelhas*
TW — A grande maioria de sua arte tem um caráter puramente brasileiro, com muitas características de nosso país em seus trabalhos. Esse é um estilo que vem desde suas primeiras criações?
AC: Sim, tenho grande carinho por este país e sempre desenharei aspectos brasileiros. Assistindo aos desenhos animados, por exemplo, o coyote e o road-runner, mais o coelho Ricochete e o seu assistente em desertos com cactos, ou foguetes indo para outro mundo ou então homens que voam usando capas e tantas outras coisas, sabia que não se referiam ao Brasil. Sabia que aquilo era a realidade e o sonho de outro país. *gluuuuu — pausa para mais um gole de água*
TW — Quem vê sua arte pode notar, se tiver um olho clínico, a perfeição em mínimos detalhes nos seus desenhos... A ferrugem de uma placa, a aspereza de uma calçada, o reflexo da luz na poça d’água, a lama no pneu da caminhonete... você recebe muitas observações sobre esses detalhes? E que tipos de outros detalhes você gosta mais de praticar em seus desenhos?
AC: Perfeição nem tanto, Tame. Meu desejo é fazer uma coisa perfeita. A justificativa que dou quando perguntam sobre o excesso de detalhes no desenho é que os míopes, por não poderem ver bem de longe, tentam compensar essa deficiência de alguma forma. No meu caso é colocar no papel algo que custou muito para ser observado. Uma folha caída no chão, uma joaninha na folha de capim, os detalhes da sola do sapato. Isso não quer dizer que eu fique olhando de forma obcecada para obter os detalhes das formas, basta uma olhadinha, uma rápida olhadinha! Eu gosto dos detalhes é um diferencial! *mexe o focinho*
*plateia aplaude*
TW — Que tipos de material (papéis, lápis, canetas...) você gosta mais de usar em seus trabalhos, Aimoré?
AC: Somente material fácil de se obter. Um papel resistente qualquer para o esboço inicial, papel A4 para o acabamento, lápis comum, borracha plástica, caneta esferográfica, lápis de cor. Qualquer material reto serve de régua. Mais nada. Começo por um garrancho de esboço à lápis, para definir a ideia, a posição e a composição do tema. Depois de finalizar os contornos passo de leve a borracha plástica para tirar a sujeira de grafite, transfiro todo o desenho, à lápis, em um papel A4 novo através de uma fonte de luz por baixo e destruo o primeiro rascunho.
No segundo papel, vejo se os personagens estão simétricos, finalizo com caneta esferográfica e passo a borracha plástica. Antes de mandar ver com lápis de cor, vejo se as proporções e as perspectivas estão boas, caso não estarem, refaço tudo. Um desenho pode levar de três semanas a vários meses para acabar. Sabe como é, nunca sobrava dinheiro para fazer uma escola profissionalizante de arte. Quando vejo desenhos furry de outros, às vezes eu penso em parar com tudo. Meu desenho não tem técnica nenhuma. *suspira*
*plateia faz owww e Tame discorda*
TW — Nem pense em parar, Aimoré. Bem... notamos também em sua arte a forma bem diferenciada de suas assinaturas, como componentes dos próprios desenhos. O que levou-o a utilizar algumas letras gregas em suas assinaturas?
AC: A assinatura embutida no desenho é uma brincadeira sem pretensões! Eu adotei o uso das letras gregas porque é uma homenagem aos gregos e um privilégio ter, pelo menos, um nome bonito! Agradeço aos meus pais por colocarem esse nome. Um adendo: o certo seria eu utilizar “omicron” “O” e não “omega” “Ω” na assinatura. Quem é grego estranha a grafia errada, peço que vejam como se fosse uma assinatura apenas, desculpem-me! O “omega” “Ω” fica mais simpático ali, por outro lado, eu vejo que muitos usam de forma errada o “delta” “∆” como se fosse “A” e o “sigma” “∑” como se fosse “E”. Heresia!
TW — Que crítica mais engraçada ou curiosa você já recebeu sobre algum de seus trabalhos, Aimoré?
AC: Sinceramente não me lembro. As pessoas perguntam porque só desenho animais. A resposta que dou “Porque gosto e é mais fácil de fazer”. Alguém já falou na cara: “Fica aí no seu mundinho!” Eu fiquei. Feliz! *mexe as orelhas*
*plateia ri*
TW — Qual é a aceitação que seus desenhos têm aí no Japão, o seu atual país de residência?
AC: Nenhuma.
TW — Você mantém contato com vários furries japoneses ou americanos atualmente? E com o fandom brasileiro?
AC: Pouquíssimo. Nestes anos todos, a maior parte do tempo permaneci desconectado da Internet, com a linha de telefone sempre cortada por falta de pagamento. Três, quatro meses desconectado, passando fome e necessidade. *abaixa as orelhas*
Desenho tipo Furry interessa a poucos. Os tipos de desenho Furry que mais interessam ao público, eu não os desenho. Isto é, ainda não os desenho.
*Gluuuu — Pausa para um gole de água*
TW — Você mora no Japão há quanto tempo, Aimoré? O padrão de vida é realmente muito caro, como nós ouvimos muito falar? Se puder dar um exemplo quanto a isso (preços, por exemplo), eu agradeço.
AC: No Brasil quando se vai à feira, se compra cenouras de baciada. No Japão é tudo contado a unidade e não por peso. Se compra um saquinho com quatro cenouras pequeninas, custando mais de 3 dólares. Um cacho de uvas custa mais de 3,50 dólares. Água mineral de 2 litros custa US$ 1,70 e um litro de gasolina custa US$ 0,80.
TW — É claro que há costumes orientais que nós, do ocidente, achamos bastante diferentes e curiosos. Que costumes mais interessantes e diferentes entre os japoneses você poderia nos contar?
AC: Eles vivem com muitas superstições. Não se pode cortar as unhas na noite de lua cheia. Não se pode assobiar à noite porque atrai espíritos vagantes que não cruzaram o rio Sanzu que separa os dois mundos. O uso do número “4”, que se pronuncia “shi” nunca é usado na numeração de apartamentos e quartos de hospitais. É costume não dar lembranças ou presentes com quatro unidades de produtos. É alvo de superstição o número “9”, que se pronuncia “ku”, a sílaba inicial de kurushimu, dor, sofrimento e preocupação. Os receituários médicos evitam numerar uma página com “9”.
Pisar nas bordas do tatami traz má sorte. Nunca se deve espetar os hashi na tigela do arroz e nem colocar os hashi de forma transversal na tigela do arroz. Não se pode comer antes de dormir, a pessoa se transforma em bovino. Ver um gato preto atravessando a rua adiante da pessoa é motivo de preocupação.
TW — Voltando à sua arte, Aimoré, entre os vários pictures retratando o cotidiano, alguns de seus trabalhos tiveram como tema a guerra, mais especificamente a guerra na antiga Iugoslávia, nos anos 90. O quão e por quê ela lhe influenciou, Aimoré?
AC: Gosto de retratar o furry como se fosse um humano, vivendo o seu dia-a-dia batalhando e suando para conseguir o sustento, o trabalho digno. O tema guerra é muito explorado nos meios de comunicação, os filmes mostram aquele espetáculo de bombas explodindo com belos clarões, destroços voando de forma espetacular e mostram o glamour de um soldado heróico que retorna à sua amada quando o filme acaba. Porém é raro mostrarem os dramas pessoais que resultam dessas guerras porque os horrores ninguém quer encarar. A guerra na Iugoslávia foi a mais irracional de todas porque aconteceu a um povo separado apenas pela religião. Vê se pode, Sr. Tame.
Desde os oito anos tinha prazer em ler revistas “Seleções”, “Realidade”, saber do mundo que me cerca. Lembro que vi uma enorme foto na revista “Fatos & Fotos” mostrando uma pessoa ajoelhada sem cabeça, cortada por espada, jorrando sangue e outra foto enorme mostrando a Segunda Guerra Mundial. Perguntei para os adultos: “A Terceira já aconteceu?” Outra vez eu perguntei “Porque todos os Presidentes do Brasil são generais depois deste aqui?” Isso foi quando mostraram um pôster dos presidentes do Brasil. Nessa época, 1968, havia sérios distúrbios na cidade de São Paulo.
TW — Uma característica muito legal nos seus desenhos, Aimoré, além da beleza dos personagens, é o estilo do sapato social que eles usam. Ele tem muitas semelhanças com o seu jeito de vestir?
AC: Tenho certeza de que, se o animal ficasse parecido com um humano, ou pelo menos ganhasse mais inteligência, ele gostaria de ser mais útil e servir mais ao ser humano. Também eles adorariam usar camisa, camiseta, calça e até um parzinho de sapatos. Adoro vestir todos os acessórios da vaidade humana, incluindo boné, cachecol e um belo par de sapatos tipo “Vulcabrás Touroflex” porém mais gordinho e largo. Por incrível que pareça, recentemente alguns estilistas de moda criaram modelos de pisantes parecidos com os meus, alguns com ponta de aço.
É muito interessante quando um gato fica olhando fixamente para os meus sapatos quando ando na rua, talvez deva ser porque ele pense ser dois bichinhos pretos pulando. Já reparou que os gatos gostam de olhar os sapatos em nossos pés?
*plateia dá risada*
TW — Coelho Aimoré também é cultura. Você tem um site que mostra bandeiras, escudos de futebol e placas de trânsito também. Qual o objetivo desse trabalho? Ele é voltado às crianças brasileiras ou mais aos visitantes estrangeiros que queiram conhecer a nossa cultura?
AC: O povo desconhece o que é Furry, dizem ser apenas um fetiche sexual. É preciso divulgar mais o conceito total do termo Furry no Brasil. Estou querendo mostrar aos outros que isto não é apenas um tipo de prazer sexual. É muito mais amplo, uma alternativa de vida. Faço a minha parte ajudando de alguma forma. Talvez o trabalho dos pioneiros seja reconhecido. O que apresento nesse sítio é um sub-produto meu, usando programas gráficos em computador, paralelo ao meu desenho antropomórfico.
É algo diferente, ao qual ninguém havia pensado, unindo o útil e um pouco cultural ao agradável. Penso que sirva às crianças, elas preferem um visual colorido e detestam muito texto. Também aprendem um pouco de cidadania. Quem sabe, os estrangeiros que deem uma olhada lá aprendam algo de Brasil.
*plateia aplaude*
TW — Um personagem que você criou também foi o rato alcalino. Como ele é? Como é o jeito dele?
AC: Esse rato branco é o meu primeiro personagem antropomórfico, criado em 1968 após eu ver o desenho de um rato na lata de raticida chamado racumin. Pensei: “Porque eles querem matar esse bichinho bonitinho?” No início era um desenho bem tosco, não teve nome até 2003! Simplesmente o chamava de Ratinho, teve até namorada. Com o tempo comecei a criar vários outros personagens: um gato, um elefante, um porco e um coelho que se chamava Frederico —não era o Aimoré—. Alguns foram copiados dos personagens da Warner. Fazia até estórias em quadrinhos, infelizmente eu copiava algumas delas das revistas, mudando os personagens.
Uma coisa errada, eu sei, mas estava com 8 anos nessa época. Resolvi acabar com todos eles em 1977, menos o Ratinho. Ele tem o gênio igual ao Aimoré. Queria tê-lo como meu “fursona”, entretanto imaginei uma reação negativa dos outros, de recusarem a mim e ao Ratinho branco. Hoje ele se chama Rato Alcalino porque eu batizei uma ratazana-macho de Rato ácido, criado em 2000, agora formam uma dupla. *sem maldades, rsrs*
TW — Quais são os seus próximos planos, tanto no fandom quanto fora dele?
AC: Nenhum plano agora, querido Tame. Minha vida não é um mar de rosas, pelo contrário. Passar por dificuldades faz o espírito elevar. Espírito é aquilo que existe dentro da gente que permanece aceso na eternidade se a pessoa tem pelo menos um pouquinho de bom senso e acredita, tem fé. É chamado também de “consciência”. Prefiro não falar em público dos meus problemas, posso ser um chato aqui.
Sou um míope autodidata, nunca estudei desenho, não tenho diploma de nada e faço meus desenhos por hobby, puro êxtase, sem interesse por dinheiro, mas é claro, poderia usar os meus desenhos para alguma causa nobre, se aparecer. Alcanço o enlevo espiritual desenhando e ouvindo música eletrônica —a autêntica de Tangerine Dream, Vangelis, Jean-Michel Jarre, Didier Marouani, Manuel Gotsching, PeRu, Kraftwerk—. Gosto muito de eletrônica prática com montagens de circuitos de áudio, pretendo terminar o meu sintetizador analógico.
TW — Você sente saudades do Brasil? Pretendes retornar pra cá algum dia? Ou está bastante estabelecido aí no Japão?
AC: Sim, muita saudade. De meus pais principalmente. Pretendo retornar em breve, quando não sei, preciso juntar grana para a passagem e a mudança, tenho muito CD.
TW — Como um furry da primeira geração do fandom brasileiro, quais são as dicas que você dá para essa galera que está descobrindo a furriness agora, e começando a desenhar, Aimoré?
AC: Aquele conselho de sempre: Muita prática e persistência. Nada adiantará fazer um curso de arte caríssimo e prolongado se a pessoa não se de dedicar de corpo & alma. Um cursinho rápido e básico pode dar mais resultados. Não é necessário possuir alta tecnologia e muitos recursos para se obter um produto bom, é necessário amor, criatividade e capacidade de adaptação ao meio. E o mais importante, ter uma mente aberta para aceitar as diferenças, afinal, se uma pessoa já aceita ser furry é sinal que tem um grande caráter, pois sabe que o lado animal faz parte de nossas origens.
*plateia aplaude*
Agora o pingue-pongue...
Ser um furry: A nova vida
Ser um coelho:Meu renascimento
Sua cidade preferida: prefiro o Litoral
Sua cor preferida: Verde
Sua comida preferida: Arroz & Feijão
Sua bebida preferida: Água
Japão: Nuvem passageira
Brasil: Minha vida
Arte yiff: Interessante, mas nunca fiz
Programa de TV preferido: Atualmente não vejo televisão
Artistas internacionais furry preferidos: Prefiro os novatos
Profissão dos seus sonhos: Ser o “Dr. Dolittle”
Filme preferido: “2001 - Uma Odisséia no Espaço”
Música preferida: Música eletrônica, música adulta entre os anos 60~80
Livro preferido:“Cosmos” Carl Sagan
Gosta de quadrinhos? Qual seu preferido? Quadrinho sério
Seu temperamento normal: Quieto asocial
Sua mania mais estranha em casa: Durmo com todas as roupas
Do que você se arrepende: Dos fatos em RL
O que te deixa mais curioso: “O quê realmente o furry pensa quando desenha furry”
Sua frase preferida: “Viver de tal maneira que sua presença não seja notada, mas sua ausência seja eternamente sentida”
Sua filosofia de vida: “Faça o que julgar ser o melhor”
TW — Aimoré Coelho, muito obrigado pela sua presença aqui no “The Tame Talk Show”. Foi uma enorme honra tê-lo aqui em nosso programa, realmente. Quem quiser comentar essa entrevista, é só dar uma passadinha nos bastidores do programa.
*dá um abraço de lobo no Aimoré e vira-se pra plateia*
COELHO AIMORÉ, SENHORAS E SENHORES...^_^
*plateia aplaude de pé*
AC: Queria agradecer a você, caro Lobo Branco Tame por fazer esta surpresa agradável. Qualquer coisa, disponha deste coelho.
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Tame... only in the name ! |
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